Estava tentando fazer uma pesquisa para escrever e, como sempre, estava ladeado pela minha amada filha Valentina. Todos conhecem a perspicácia e acuidade de Valentina que percebe muito rápido as coisas. Pois bem, como não poderia faltar o de sempre, enquanto tentava ver alguns vídeos no Youtube, ela perguntava o que era que eu estava fazendo, o que era aquilo ou aquilo outro e etc. Buscava alguns vídeos de humor para fazer alguns paralelos. Não sendo mais surpresa para mim, “dona” Valentina pergunta: quem é esse, papai? Eu dizia: é o Adamastor Pitaco, meu amor. Não passando muito tempo, quando ele começou a falar, ela pergunta, e dessa vez foi uma pergunta “inusitada”: papai, é pastor? Eu disse: não, não, ele conta piada. É isso mesmo, acho que Valentina captou o “espírito do nosso tempo”.
O humor faz parte da vida e é bom rir, todavia, esse humor não pode ser as custas do quebrantamento!
Nasci numa terra onde o humor faz parte do dia a dia. Em Fortaleza, graças a Deus, se faz anedota com tudo. Tudo pode ser transformado em gracejo. Infelizmente, por outro lado, isso não produz transformação na sociedade cearense. É apenas uma forma de maquiar os problemas. Essa parece ser a escolha de muitos pastores e suas igrejas, para o nosso lamento. As histórias cômicas e piadas que são contatas em muitos púlpitos escondem o que de fato é importante ou cria uma ilusão existencial de que está tudo bem.
Percebemos que vivemos, também, em meio a uma batalha de “adamastores picado”, “rafinhas bastos”, “CQCs”, “tons cavalcante” nas igrejas. – A disputa dos palhaços – É uma disputa por popularidade e seguidores que nem Paulo pensou que poderia existir na igreja, mesmo tendo escrito a carta aos coríntios corrigindo as divisões em nome de líderes cristãos. Pastores são mais reconhecidos por serem legais, engraçados, por histórias dramáticas ou cômicas que contam em suas palestras ou pregações motivacionais do que pelo Evangelho que deveriam anunciar, confrontando o pecado e apresentando a graça não barateada. É duro perceber que não é mais suficiente; alguns abandonaram o primeiro amor e o Evangelho de Cristo, como aconteceu com a Igreja de Éfeso, que mesmo sendo exortada a voltar ao primeiro amor, sob pena de não existir mais, não retornou. Oremos por esses pastores e irmãos.
É como mencionamos, é inegável a importância de ser bem-humorado. É muito bom rir, contar boas e saudáveis piadas e histórias engraçadas – o crente deve ser alegre mesmo em meio as provações (Tg 1:3). Evidentemente isso tem o seu lugar em nossas vidas, contudo, não contamos piada ou histórias cômicas num velório, numa entrevista de trabalho, num pedido de casamento (conversando com o pai da futura esposa), num tribunal, para o presidente ou dono da sua empresa ou mesmo para pessoas moribundas que ainda não conhecem a Cristo. Será que você contaria uma piada ou história engraçada a fim de entreter uma pessoa moribunda que não conhece a Cristo, no lugar de uma palavra evangelizadora? Espero que não!
A importância de uma sobre a outra é irrefutável, sem dúvidas. Adentrando, assim, por esse mérito, reavivo em nossos corações o voto dos ministros do Evangelho (pastores), que deveriam ter em seus lábios o conteúdo da fé cristã, que é O Evangelho do Senhor Jesus Cristo. Parece até que os ministros do SANTO EVANGELHO têm que justificar tudo com “chavões” evangélicos e piadas gospel para não pecar ofendendo os mais melindrosos e delicados. Contar “piadas gospel” para entreter frequentadores ou mesmo crentes que estão distraídos do verdadeiro e suficiente alvo de nossas vidas é um imperativo para a popularidade de certos pastores que estão no mínimo equivocados. É lamentável que estejamos precisando de tais “muletas” pragmáticas e hedonistas. O Evangelho de Cristo, não o nominal, mas o verdadeiro, é absolutamente suficiente e sustenta o homem integralmente!
As histórias engraçadas são importantes, as piadas são legais e nos fazem rir, gostaria até de poder ouvir mais piadas e histórias engraçadas de boa qualidade, visto que tudo isso tem o seu lugar e momento; o problema é quando elas ocupam certos lugares no coração e momentos que só deveriam ser ocupados pela Palavra do Senhor e o alegre quebrantamento, pelo prazer de viver uma vida de glórias a Deus! Quem não tem prazer nas coisas do Senhor, como disse John Piper, é o mesmo que adulterar! Adulterar é o mesmo que dizer que a alegria e o prazer no Senhor não são suficientes para nós. Gostar das coisas que Deus não gosta é o mesmo que ser amigo do mundo e inimigo de Deus.
Por fim, devemos seguir alguns conselhos: primeiro, cuidado para não estar sendo fútil em sua vida, buscando mascarar a superficialidade de seus intentos com humor gospel. Segundo, seja criterioso no tocante à pregação do pastor. Não é que o pastor nunca contará uma coisa que seja engraçada enquanto prega, mas certamente os mais aprofundados na Palavra saberão quando se passou de um momento engraçado para um sermão engraçado. Inequivocamente, os crentes maduros reconhecem quando o pastor está sendo um palhaço e não um pastor, quando deixou de ser uma pregação e passou a ser entretenimento. Terceiro, temos que saber separar os momentos de diversão, lazer ou cotidiano, da pregação, do culto, do momento de quebrantamento e reflexão sobre a Palavra. Não podemos misturar as coisas. Quarto, evitar os palhaços travestidos de pastores. É como o Senhor disse, são lobos vestidos em peles de ovelha.
Oremos por nós, por todos os irmãos para que não caiam ou para que escapem do laço do passarinheiro, pelos palhaços e humoristas gospel que se dizem pastores ou irmãos e tomemos cuidado para não seguir este mesmo caminho. Vida alegre, sim! Vida cheia de graça, sim! Piadas e histórias engraçadas, sim! Todavia, entretanto, com moderação, com conteúdo correto e no lugar e no tempo corretos. Para a glória de Deus e alegria nossa!