QUEM PODE ACRESCENTAR UM CÔVADO À SUA VIDA?

Por Caio Amaral

Não é sem motivo que a humanidade luta contra os efeitos negativos da ansiedade. Esse mal que atinge o coração das pessoas é tratado como um problema do homem moderno, devido ao grande nível de estresse que as pessoas estão sendo submetidas, a grande cobrança que a sociedade do século XXI impõe sobre os indivíduos (escola, faculdade, trabalho, casamento, filhos…). Tudo isso segundo os “especialistas”, são fatores que supostamente causam ou levam a pessoa a um estado de ansiedade, a ponto de isso se tornar uma doença com uma série de classificações e tipos de tratamentos diferentes e um tanto quanto controversos que os “especialistas” podem oferecer.

Tudo isso, entretanto, é o que os homens dizem sobre a ansiedade. Mas analisando as palavras do nosso Senhor Jesus no final do sermão do monte e, analisando também o que as escrituras nos dizem a respeito desse tema podemos observar que, muito além de ser um “estado de espírito” ou um “distúrbio da saúde mental”, a ansiedade é um pecado, e um pecado contra um Deus perfeito, uma evidente falta de fé, e um descrédito acerca da doutrina da providência e da soberania de Deus.

Quando o Senhor Jesus nos diz: “Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber, nem pelo vosso corpo, quanto o que haveis de vestir…”(Mateus 6:25), Ele nos estabelece um comando muito claro: confie no poder da providência do Senhor mais do que no poder do seu braço, não fique ansioso pela sua vida porque ela não está nas suas mãos; o dia de amanhã, o futuro, o curso da sua vida vai além da sua capacidade, da sua força, da sua inteligência, a sua vida está nas mãos de Deus, e Ele por ser soberano nos comanda a não sermos incrédulos quanto à sua palavra, confiar nela e não sermos ansiosos, Ele nos ordena a não desesperarmos pelo dia de amanhã.

Nessa pandemia os homens se desesperaram pelo dia de amanhã. Negócios fechando, vidas sendo perdidas, medo e terror sendo disseminado na televisão e nas mídias sociais. A solução mais coerente aos olhos dos homens parecia ser nos trancarmos em nossas casas, abdicar das nossas vidas e esperar uma solução mágica ou uma ideia salvadora vinda da cabeça de algum político preferido ou de algum especialista do momento. Afinal de contas, é “tudo pela vida”, “eu não posso morrer” ou “meus parentes não podem morrer”.

Sim, o mundo ficou rendido perante a esse vírus, entrou em pânico, sem ter esperança no futuro. A parte mais dramática dessa história, entretanto, não foi a reação do mundo, porque é de se esperar que um povo que não tem o Senhor Deus como seu governador, se desespere ante a uma pandemia como essa que se deu. A pior parte é que a Igreja, a noiva de Cristo, o povo que chama pelo nome de Deus teve uma reação quase tão incrédula como o mundo.

A igreja, que é o baluarte da verdade (1 Timóteo 3:15), a igreja que é onde as pessoas devem encontrar a doutrina, a pregação do evangelho de Cristo Jesus, estava fechada; sim, foi o que aconteceu, meses e meses, de forma geral, a igreja cristã permaneceu fechada durante o tempo da pandemia, sobre o pretexto de priorizar a saúde de seus membros ou obediência civil abrindo mão do que é mais importante: o culto do Senhor Deus. O medo, a ansiedade e o desespero perante a esse vírus foi tão grande, que a igreja temeu mais aos homens, temeu mais a morte, do que a Deus. Ainda no evangelho de Mateus, no capítulo 6, o nosso Senhor Jesus logo após dizer que Deus é soberano em sustentar a vida das aves do céu diz: “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?

Um côvado era uma medida muito antiga utilizada por muitas civilizações do passado. Essa medida que utilizava o antebraço como régua, é a distância da ponta do dedo médio até o cotovelo, geralmente 45cm. O senhor Jesus usa, então, essa medida pra ilustrar figuradamente que por mais cuidadoso que você seja, por mais ansioso em tentar arquitetar os seus passos, seus movimentos, ainda que você se tranque em casa pelo resto da sua vida tentando fugir da morte “porque um carro pode me atropelar”, você e todos nós, não vamos acrescentar nem 1 km ao curso da nossa vida, nem 1 metro nem 45 centímetros, vamos viver e morrer exatamente no dia que o nosso Deus predeterminou na eternidade, nem 1 minuto a mais, nem 1 minuto a menos. “Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda” (Salmo 139:16)

E com isso não significa que devemos tentar o Senhor Deus, nos colocando em perigo de forma desnecessária quebrando a parte positiva do sexto mandamento, contudo há um abismo gigante entre tentar o Senhor por imprudência e descaso com a vida e, por outro lado, pecar por ansiedade e medo de morrer, se trancar dentro de sua casa com medo da possibilidade de contrair um vírus, abrindo mão para isso da assembleia dos santos, da comunhão dos irmãos, do culto do Senhor. A aparência era de zelo, mas a realidade é que habitava nos corações a falta de fé na soberania de Deus, e um pavor de morrer que foi capaz de fazer os crentes abandonarem o culto em nome desse medo.

Pense como será no céu, pense quando encontramos nossos irmãos da antiga aliança que mesmo sendo ameaçados de morte, não renunciaram a servir a Deus como Daniel e seus amigos; pense como será encontrar tantos que perderam suas vidas por servirem mais a Deus do que os governantes tirânicos da época como Isaías que foi perseguido pelo rei Manassés. Pense como será encontrar Estevão que foi sentenciado e morto pelas autoridades judaicas, por seguir a Cristo. Como será explicar para nossos irmãos da igreja primitiva que, nós do século XXI, paramos de nos reunir pra cultuar a Deus por medo da possibilidade da morte causada por um vírus, ou obedecendo a decretos injustos de governantes, sendo que eles viveram sob constante e real ameaça de morte pelo Império Romano e pelos judeus, contudo não deixaram de se reunir para cultuar mesmo sabendo do risco de serem denunciados e executados pelas autoridades?

Como explicar que nós paramos as nossas atividades da igreja para os reformadores e pré-reformadores que, ante a uma doença tão terrível que em 4 séculos matou pelo menos um terço da população europeia, que foi a peste negra, não abandonaram o culto a Deus, e nem mesmo ante as perseguições da igreja romana que muitas vezes queimavam vivos os que se levantavam e defendiam as verdades bíblicas como foi com John Hus? Como explicar para os huguenotes que chegaram ao Brasil e, depois de serem traídos tiveram a chance de se retratarem e abandonar a fé reformada, e eles, não cedendo nem um centímetro, produziram a confissão de fé da Guanabara como resposta e foram assassinados por isso? E muitos outros exemplos que a história da igreja e a própria bíblia nos dão, mostram como esses irmãos zelavam pela palavra de Deus e pelo culto acima das suas próprias vidas, e eles consideravam a possibilidade de perder tudo por causa de Cristo como uma honra.

Precisamos, portanto, ter ousadia e confiança na palavra de Deus, para obedecer ao Senhor em primeiro lugar e considerar a obediência a Ele acima de qualquer coisa, ainda que seja o caminho mais difícil, ainda que custe o nosso emprego, ainda que custe o nosso dinheiro, ainda que custe a nossa vida e a vida dos nossos filhos, porque, ainda que morramos, a coroa da vida nos é esperada e assim como o apóstolo Paulo diz nós também temos que dizer: “Portanto para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1:21).

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