Ansiedade é um estado mental que inclui uma sensação de medo e imprevisibilidade acompanhada por uma apreensão pronunciada sobre o futuro. Pode ser vista como uma característica ou tendência pessoal e muitas vezes pode beneficiar o indivíduo quando estimula vigilância ou mudanças de rotina específicas. No entanto, quando experimentada com frequência, de forma intensa e/ou em situações inadequadas, a ansiedade pode então ser caracterizada como um transtorno. Assim, as reações de ansiedade normais e patológicas são muito semelhantes, exceto na duração, no momento e na frequência da experiência.
Em média, mais de um quarto (28,8%) dos adultos terão algum transtorno de ansiedade na vida[1]. As complicações relacionadas são: hipocondria (mania de doença), fobias, auto depreciação, desmoralização, depressão, alcoolismo e/ou abuso de drogas.
O tratamento preconizado, de forma geral, se baseia em:
· Mudança de hábitos – Praticar meditação e relaxamento; ter tempo para si; atividades físicas ou exercícios; leitura; passar tempo com amigos; praticar hobbies; envolver-se com espiritualidade; passar tempo de qualidade com seus animais de estimação; ter uma boa noite de sono; comer de forma saudável;
· Psicoterapia – ajudar a compreender os comportamentos, emoções e ideias que contribuem para o problema, a recuperar a sensação de controle e prazer na vida e a aprender habilidades de enfrentamento
· Medicações – a maioria das medicações têm como mecanismo de ação aumentar os níveis cerebrais de serotonina e norepinefrina resultando na diminuição de sintomas como angústia, ansiedade, medo, agressividade e problemas alimentares. Não têm efeito curativo apenas paliativo.
Essa é a propedêutica básica com relação ao distúrbio da ansiedade pela medicina e psicologia. Entretanto, diante da cosmovisão cristã, essa abordagem parece muito superficial, tratando apenas a “casca” e esquecendo a “polpa”. Há necessidade de um entendimento mais profundo da questão, eliminando então o “mal pela raiz”.
Assim como algumas práticas de psicoterapia, também precisamos entender como situações do passado podem influenciar nosso comportamento. Mais ainda, fazer um retorno até o início dos tempos para entender melhor esta questão.
A Bíblia nos diz em Gênesis, capítulos 1 e 2, como Deus criou o mundo, de forma perfeita, em 6 dias, sendo o homem e mulher criados no sexto dia. Para glória do Seu poder, o Senhor santifica o sétimo dia para contemplar Sua criação e para que as criaturas possam adorá-Lo e louvá-Lo, afinal, tudo passou a existir por causa Dele (Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém! – Romanos 11:36).
Entretanto, em Gênesis capítulo 3, a semente plantada pela serpente traz a dúvida de que esse mundo perfeito não seria tão perfeito assim, e que nada pode ser tão bom que não possa melhorar. A humanidade com seu coração ingrato, representada por Adão e Eva, troca as maravilhas de um mundo perfeito recém criado por um fruto, inicialmente desprezado, que após a maquiagem sagaz do enganador, transforma-se na “melhor coisa do mundo”.
Após o pecado, Adão e Eva passam a ter incerteza sobre seu futuro, envergonhados por sua desobediência e pelo medo (fobia) das consequências da quebra do pacto com Deus.
O coração maculado do homem e da mulher produz dificuldades na relação entre si, com o resto da criação e principalmente com Deus. Agora terão que lidar com a incerteza sobre vários aspectos da sua vida: será que Adão vai dar conta de ser o tutor da família? Vai conseguir proteger, nutrir, ensinar e se manter nos caminhos de Deus? E Eva? Vai conseguir ser uma auxiliadora adequada para Adão ou vai querer inverter os papéis e comandar a família no seu lugar? Será que vai ter filhos e se tiver como será essa dor durante o parto? Será que vai haver alimento amanhã? Quando e como vou morrer? E a minha família? Meus filhos serão obedientes? Estes e tantos outros questionamentos começam a fazer parte do dia a dia da humanidade. Portanto, um ciclo vicioso é formado, pecado gerando ansiedade e ansiedade gerando pecado.
Por causa do pecado, surgiram doenças, ansiedade, depressão e todos outros males. Adão ao tentar procurar satisfação nas miragens do mundo, demonstrou sua ingratidão e desobediência a Deus. Isso custou a sua vida, a relação com Deus, sua mulher, seus filhos e toda a criação (“[…] maldita é a terra por tua causa” Gênesis 3:17).
Abrão ansioso por uma solução para fome, não espera pela providência divina e tropeça no Egito (Gênesis 14) e também acaba cedendo a tentação da esposa de ter um descendente, se envolvendo com sua serva (Gênesis 16). O rei Saul, diante da chegada do exército filisteu e a fuga de boa parte de seus homens, com medo em Gilgal, não espera Samuel e oferece sacrifícios (holocaustos) infringindo a ordem Divina.
Para a quebra deste ciclo Deus chama o Seu povo, a medida que as gerações vão passando, a confiar na Sua providência, até a chegada do Messias.
O Senhor Jesus traz finalmente a salvação ao seu povo, cumprindo integralmente os mandamentos. Através de seus ensinamentos, confirmando a Palavra de Deus, mostra como nós devemos agir diante das situações diárias em um mundo caído devido ao pecado, chamando-nos, persistentemente, a confiar na providência divina, até que Ele venha definitivamente para julgar o mundo e salvar e levar o Seu povo aos novos Céus e nova Terra onde a serpente, com a cabeça esmagada, não vai mais lançar sua semente do mal.
Confiança na providência divina:
- Mateus 6:25 Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? 31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? 32 Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas.
Buscando a Sua palavra e cumprindo seus mandamentos:
- Mateus 6:33 buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. 34 Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.
O apóstolo Paulo também orienta os cristãos sobre o papel da oração para fortalecer a confiança em Deus:
- Filipenses 4:6 Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. 7 E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.
Também o apóstolo Pedro exorta os cristão sobre a soberania de Deus sobre nossa vida:
- 1 Pedro 5:6 Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, 7 lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.
Portanto, a mente humana rondando por terrenos áridos na Palavra de Deus, enfraquece a confiança na Sua providência, e nos predispõe às armadilhas do pensamento mundano, cujo resultado sempre é o pecado.
Abordar a ansiedade sem levar em consideração o pecado é como resolver o problema de um barco furado que está afundando com uma caneca. Pode até impedir que afunde inicialmente, mas continua enchendo d’agua até encontrar o fundo do lago.
Mateus 16:26 Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma?
Mateus 10:28 Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.
REFERÊNCIAS
[1] Thurston RC, Rewak M, and Kubzansky LD: An anxious heart: anxiety and the onset of cardiovascular diseases. Prog Cardiovasc Dis 2013; 55: pp. 524-537
Imagem do topo: L’anxiété de Saint Joseph, James Tissot, 1886-1894. Brooklyn Museum. Domínio Público