DA INSTITUIÇÃO DA IGREJA VISÍVEL – PARTE 2

Traduzido e adaptado por diác. Wallas Pinheiro

UMA CONSIDERAÇÃO DE CERTAS CONTROVÉRSIAS – POR WILLEM APOLLONIUS (1602 – 1657)

2. IGREJAS NACIONAIS

Afirmamos que a igreja visível descrita na sagrada Escritura não só era paroquial ou particular, mas que também havia uma igreja nacional, de uma nação ou reino, que consistia de muitas igrejas paroquiais, sob um único governo eclesiástico, unidas entre elas por uma comunhão visível e mútua, com companheirismo eclesiástico.

Negamos, entretanto, que possa existir qualquer Igreja Nacional como tipo, no Novo Testamento, da forma como a igreja judaica o foi. Naquele contexto, toda a nação estava ligada por um culto solene que tipificava o Novo Testamento, mas era feito em um local escolhido por Deus, sob a supervisão de um pastor ou sacerdote, que em adoração e sacrifícios representava toda a nação. Isso se desvaneceu com os tipos e preceitos carnais do Antigo Testamento.

Rejeitamos também uma forma nacional ou provincial de igreja, criada pelo homem, na qual várias igrejas se unem e se submetem a uma Catedral, dependendo de um único pastor, que é pastor de todos os outros de igrejas inferiores. Dessa forma, as igrejas inferiores participam das ordenanças santas de Deus e do poder eclesiástico apenas por derivação e comissão da jurisdição da Catedral ou do pastor e bispo nacional. Essas coisas são invenções do Anticristo [nota do tradutor: entre os puritanos era comum associar a figura do anticristo a um poder eclesiástico no qual há somente um e supremo líder], que trouxe a tirania para a Igreja, e subjugou o poder que Deus garantiu às igrejas e pastores.

Porém, uma forma de igreja nacional ou provincial nós reconhecemos, quando muitas igrejas particulares e unidas por um ministério visível e tipo de governo, se unem em um corpo visível, para celebrar todas aquelas ordenanças de Deus que são necessárias para o governo ministerial destas igrejas, bem como para sua unidade. Esta noção de igreja nós deduzimos da escritura a partir dos seguintes argumentos:

1 – A Igreja de Deus no Antigo Testamento consistia de muitas igrejas particulares e sinagogas, que em diversos lugares celebravam o culto a Deus, os exercícios de doutrina, a disciplina e o governo da igreja. Como em Atos 15.21, Atos 13.15, 16, Lucas 21.12 e João 12.42, em que havia ainda uma única igreja nacional que Deus separou de vários povos e nações (Dt 7.7 e 32.8). As igrejas do Novo Testamento também são de mesma natureza e forma, em todas as coisas essenciais que constituem uma igreja. Tendo a mesma Fé, a mesma Aliança da Graça, os mesmos sinais da aliança em substância, o mesmo caminho da salvação, a mesma Religião, a mesma profissão de fé visível (que constitui a igreja visível) comum, e é diferente apenas em cerimônias acidentais típicas, que não mudam a essência ou a forma da Igreja.

Portanto, escritores protestantes observam que a escritura sagrada não se recusa de fazer uso do termo sinagoga para denotar a igreja cristã (Tg 2.2; 2 Ts 2.1; Hb 10.25 – em grego). “Pois sendo a igreja de ambos os testamentos a mesma, em essência, não há motivo para não se referir a ambos os povos por um e mesmo nome” – argumenta Tilenus em suas Teses, parte 2, disputa 14, tese 3. É moral e perpétuo, portanto, que todas aquelas sinagogas, paróquias ou igrejas particulares, sejam unidas em uma Igreja Nacional. Disso se segue também que as igrejas judaicas trazidas à fé em Cristo sob o Novo Testamento, embora dispersas, se uniram em um corpo eclesiástico, governado pela mesma lei, governo e disciplina eclesiástica (1 Pd 1.1-2 e 5.1-2 – compare [nota do tradutor: é evidente que o texto de 1 Pd 1 se refere a várias igrejas, entretanto, o capítulo 5 se dirige aos presbíteros de todas essas igrejas como um corpo unificado]).

2 – A Igreja da Galácia consistia de várias igrejas particulares, como em Gálatas 1.2, ainda assim, estavam unidas sob um corpo eclesiástico nacional, e uma sociedade sob disciplina comum e governo. Assim, Gálatas 5.9 compara a massa que é facilmente corrompida pelo fermento. Como um corpo unido e compacto a Igreja de Corinto é comparada de mesmo modo (1 Co 5.6). Ele [Paulo] deu ordem aos gálatas referente à uniformidade do governo na disciplina externa e adoração entre eles, contra os saduceus e falsos mestres (Gl 4.10 e 5.9, 10), o que demanda uma autoridade unida na igreja. Assim, o objetivo é que todos os falsos mestres sejam removidos de todas as igrejas particulares. A igreja da Galácia era, portanto, provincial.

3 – As igrejas particulares de uma província ou nação, que no governo ministerial, na amizade eclesiástica e na comunhão, estão unidas em um corpo eclesiástico visível, para exercer os atos visíveis da comunhão da igreja entre elas. Estas se constituem a Igreja Provincial ou Nacional. Pois os membros que de uma mesma forma eclesiástica exercem entre eles atos visíveis de comunhão eclesiástica, e conjuntamente participam dos mesmos atos e privilégios de uma Igreja, formam um único corpo visível da Igreja. Assim, as igrejas particulares de uma nação, de acordo com a Palavra de Deus, exercem entre elas essa comunhão visível: por seus membros particulares, através de seus pastores e presbíteros eleitos, ouvem a mesma Palavra, frequentam o mesmo culto, participam dos mesmos sacramentos; evitam ordinariamente e colocam para fora do Reino de Cristo as pessoas excomungadas; exortam, reprovam, confortam e edificam-se mutuamente. E, quando alguém abandona o Evangelho de Cristo, há outros encarregados do Ministério Eclesiástico e da disciplina de Cristo para corrigir da maneira correta. E se eles se recusarem ouvir à admoestação eclesiástica, devem ser considerados companheiros de gentios e publicanos, sendo evitados, e excluídos da comunhão santa. Desde que as igrejas de um povo ou nação pratiquem entre eles estes exercícios eclesiásticos específicos, de comunhão e união, formam, então, uma coalizão em uma Igreja Nacional.

Desta mesma forma nossas igrejas na Holanda em suas decisões sinodais ordenaram não somente assembleias eclesiásticas, de Consistório, Presbiteral ou de Classe, mas decretaram, também, que Sínodos Provinciais e Nacionais devem ser convocados eclesiasticamente para o julgamento das coisas da Igreja. [Nota do tradutor: neste ponto, Apollonius cita várias resoluções sinodais que são aqui colocadas literalmente: Emda, Ano 1571. art. 6, 7, 8, 9. em Dort, Ano 1578. art. 16, 17. em Middleburgh, Ano 1581. art. 20, 21. em Hague, Ano 1586. art. 26, 27. em Middleburgh, Ano 1591. art. 25, 26. em Dort, Ano 1619. art. 29, 30]. Foi decretado que deve haver quatro tipos de assembleias, que são: Consistórios, Classes, Sínodos Provinciais e Nacionais, nos quais nada, exceto questões eclesiásticas, podem ser tratadas, e somente de modo eclesiástico.

Traduzido do site Purely Presbyterian, no link: https://purelypresbyterian.com/2021/06/14/the-church-as-an-institution-willem-apollonius/

Imagem do topo: NeONBRAND, Unsplash. Domínio Público

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