DA INSTITUIÇÃO DA IGREJA VISÍVEL – FINAL

Traduzido e adaptado por diác. Wallas Pinheiro

UMA CONSIDERAÇÃO DE CERTAS CONTROVÉRSIAS – POR WILLEM APOLLONIUS (1602 – 1657)

4. OS REPRESENTANTES DA IGREJA

Afirmamos que o grupo de presbíteros quando reunido com jurisdição eclesiástica para resolver as questões da igreja, é uma igreja. A saber, um ministério, ou um governo e representação da igreja (como é chamada), e, portanto, na Escritura, tem o nome de igreja.

Confessamos que tal agrupamento de presbíteros não é uma representação da igreja, propriamente dita, como se os presbíteros fossem delegados dos crentes, que em seu nome e em seu lugar governa a igreja, e julga suas questões. Como se o grupo dos crentes governasse e julgasse por meio dos presbíteros tornando estes instrumentos e deputados: assim como o deputado do rei representa o rei mesmo. Na realidade, a multidão de crentes na igreja não tem o poder de governar pela Palavra de Deus, e julgar as questões de jurisdição espiritual e, portanto, não podem delegar isso aos líderes e presbíteros. Mas os presbíteros governam imediatamente de Cristo, o Rei da Igreja, que recebeu o poder do governo e jurisdição eclesiástica (2 Co 5.20; 1 Co 4.1). Neste sentido, não reconhecemos uma igreja representativa.

Não reconhecemos uma igreja representativa, como uma comissão dos crentes, deva ter poder absoluto por seus atos de jurisdição ou lei para ligar todos, e submeter sua fé e consciência, como se sem julgamento devessem receber e abraçar tudo o que for determinado por esta igreja. Este é o anticristão e tirânico governo papista representativo, no Papa e em seus bispos, que são negados pela Igreja Reformada.

A Igreja Representativa que reconhecemos nas Escrituras é o grupo de presbíteros eleito pela Igreja que, pela autoridade e jurisdição eclesiástica recebida de Cristo, é colocada sobre a igreja e dela cuida, governando com jurisdição espiritual, tendo seus decretos em consonância com a Palavra de Deus. A eles todos os crentes estão ligados pela obediência, em todas as coisas que vêm da Palavra de Deus e pelo poder de Cristo é ordenado por eles. Este governo ministerial e representativo da igreja é provado pelos seguintes argumentos:

1 – De Mateus 18.17, 18: “Diga à Igreja”. Esta é a igreja que tem o poder das chaves, o poder de ligar e desligar no céu e na terra. Este poder não foi dado a todos os crentes, mas aos presbíteros e líderes da igreja, que devem ser obedecidos no Senhor sob pena de exclusão. Pois o governo da Igreja não é promíscuo e popular, mas é comissionado por Deus aos presbíteros e líderes, que governam e guiam a igreja. Esta é a Igreja que deve receber e julgar as questões dos crentes levadas até ela, com respeito a escândalos e ofensas de membros da Igreja. Este é o ofício de pastores e presbíteros, a quem o Espírito Santo prescreveu leis e governos, por meio do qual devem julgar aquelas questões (Tt 1.13), e da qual não há participação de todos os crentes. É esta igreja que tem o poder de remir ou reter pecados. Poder este que foi dado aos Apóstolos e seus sucessores (Mt 16.18,19; Jo 20.21,22), mas em lugar algum foi dado a todos os crentes. O governo e ministério dos presbíteros da Igreja é aqui compreendido.

Beza afirma sobre Mateus 16.18 que

na Sagrada Escritura a palavra ‘igreja’ é, às vezes, usada para um senado eclesiástico (cf. Mt 18.17), a saber, porque foi convocada em nome de toda a igreja sobre a qual foi posto; em todos os lugares é chamado por Paulo de um Presbitério (1 Tm 4.14)”

e que neste lugar, pelo termo igreja, o Evangelista entende o colégio de presbíteros e prova, daqui, que “após mencionar o ligar e o desligar, que é o poder e jurisdição que sempre esteve no poder deles, que eram, portanto, os chamados líderes nas sinagogas”. E Tremellius em suas notas sobre o Novo Testamento traduzido do siríaco diz “À igreja, que é aquele concílio estabelecido por Deus e a congregação dos santos, que têm a autoridade de ligar e desligar, de acordo com Deus, é dado este poder como é dito no versículo.”. Diodati em suas notas na bíblia italiana nesta parte expõe o termo igreja, como sendo “um ajuntamento daqueles que têm o cuidado do governo da igreja entre os cristãos, e a inspeção da ordem, paz, e disciplina nela (1 Co 5.3, 4; 2 Co 2.6), de acordo o costume da Igreja Judaica, que também tinha seu consistório de correção das maneiras”. Os doutores e professores de Genebra em suas notas na bíblia francesa, neste texto entendem “aqueles que têm o cuidado e chamado ordinário da administração da doutrina e disciplina na igreja: como sempre tem sido entre o povo de Deus, mas foi renovado especialmente sob o ministério apostólico”. Os intérpretes holandeses em suas notas na sua tradução explicam igreja como “líderes da igreja, como representando toda ela (1 Co 12.28; 2 Co 2.6).

2 – Se prova de 1 Coríntios 5, onde há uma assembleia eclesiástica descrita, que por uma jurisdição eclesiástica se resolve as questões da igreja, e representa a igreja, a saber, o presbitério tendo o cuidado da disciplina da igreja, que se reuniu ao espírito ministerial de Paulo, e no poder do Senhor Jesus, isto é, o poder das Chaves, que Cristo, o Senhor de sua Igreja, tem (Ap 3.7), consistindo apenas dos ministros da igreja – embaixadores de Cristo – sendo somente eles que têm o espírito ministerial dos apóstolos, e o poder do Senhor os comissionou. Eles se reúnem com este fim, de entregar a satanás a pessoa incestuosa, um membro da igreja. Este exercício de poder não é dado a todos os membros da igreja, mas aos ministros e pastores. Devemos, portanto, reconhecer um governo representativo como Igreja.

REJEITAMOS, PORTANTO, AS SEGUINTES OPINIÕES

1 – De que não há outra igreja visível descrita na Escritura, mas uma particular ou paroquial, que deveria se reunir em um lugar para celebrar o santo culto ao Senhor. Pois há tal igreja descrita nas Escrituras, que tem estes atributos dados a ela, mas que não coincidem com uma igreja particular, como tal: está dispersa pelo Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1 Pd 1.1 e 5.1, 2). Em que todos, gregos ou judeus, escravos e livres, formam um único corpo (1 Co 12.13).

2 – De que uma igreja visível particular é limitada pela Escritura dessa forma, como se devesse, por necessidade, ser contida, e devesse se reunir em um único lugar para o culto público de Deus e edificação mútua. Pois temos mostrado que a instituição de tal igreja, por várias razões (incluindo a quantidade de membros), não pode se reunir ordinariamente em um único local, o que concorda também com a palavra de Deus e a Instituição Apostólica. Pois a essência e justa constituição de uma igreja dependem não da circunstância externa do local, mas da profissão de fé devida, e se liga à comunhão santa. Como Ames diz “O que é igual na profissão de fé constitui uma Igreja Visível, que na realidade é em sua natureza interna se constitui da Igreja Mística, isto é, da Fé”.

3 – De que não há igreja visível instituída, senão somente aquela que se encontra para a prática de todas as ordenanças eclesiásticas de Cristo, para a pregação da palavra de Deus, e administração dos sacramentos, exercitando todos os ofícios e dons espirituais, na igreja constituída. Mas Cristo fala de uma Igreja (Mt 18.17) reunida não para a Palavra ou sacramentos, mas somente para exercer a disciplina eclesiástica. Assim, esta reunião é chamada de igreja, mesmo os apóstolos não pregando nenhum sermão, nem administrando os sacramentos, mas somente contando o que Deus fez entre os gentios (At 14.27; 15.4), ou para que alguém levasse os decretos deles até outros (At 15.22); o que compõem atos de jurisdição eclesiástica. Portanto, aquela reunião, feita somente para o exercício da disciplina e jurisdição eclesiástica, também é a Igreja, e assim é chamada na Escritura.

Traduzido do site Purely Presbyterian, no link: https://purelypresbyterian.com/2021/06/14/the-church-as-an-institution-willem-apollonius/

Imagem do topo: NeONBRAND, Unsplash. Domínio Público

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